Olá
Primeiramente, comunico a todos o nascimento de nosso filho primogênito Galileu Biancato, que nasceu no dia 03 de abril de 2014, às 18:49 hs, pesando 2705g pré maturo de 35 semanas.
Vim escrever-lhes um relato de tudo que aconteceu no dia do parto, o dia mais intenso e cansativo de toda a minha vida!
Escrevo para documentar exatamente tudo o que aconteceu para o caso de necessitar desse relato para algum fim jurídico futuro.
Atenção: esse post ficou enorme, está cheio de dor, sangue e sofrimento, e não ficarei chateada se ninguém ler até o final.
Escrevo para documentar exatamente tudo o que aconteceu para o caso de necessitar desse relato para algum fim jurídico futuro.
Atenção: esse post ficou enorme, está cheio de dor, sangue e sofrimento, e não ficarei chateada se ninguém ler até o final.
No dia 03 de abril acordei cedo, e ao contrário dos outros dias, não consegui dormir mais, o Cezar saiu para trabalhar e me avisou que estava indo viajar para uma cidade aqui perto, mas ao contrário dos outros dias, não perguntei para que cidade ele estava indo. Levantei com uma sensação meio estranha, e fiquei no sofá esperando dar o horário de abertura do comércio para sair de casa para comprar algumas coisas que estavam faltando para o Galileu. Minha cadela da raça labrador estava dormindo no sofá ao meu lado, quando cochilei. Acordei novamente as 10:15 da manhã com minha cadela andando ao meu redor, quando levantei do sofá para ir ao banheiro ( o que era muito frequente até então) ela foi deitar-se no meu quarto (o que era bem incomum, ela raramente ficava no meu quarto). Assim que terminei de fazer xixi, percebi que continuou saindo líquido, quando olhei, percebi que estava um pouco rosado, me assustei muito, e logo tive um clique! Minha bolsa rompeu! Na mesma hora tive um ataque de pânico, entrei em desespero, não sabia o que fazer.
Sozinha em casa, sem saber onde o Cezar estava, não consegui pensar em nada, peguei o telefone e tentei ligar para ele várias vezes, todas as ligações caíram na caixa de mensagens. Pânico, falta de ar, desespero, encontrei o telefone do meu médico, liguei para ele. Ele estava atendendo uma paciente, e me pediram que esperasse que logo me retornariam a ligação. Mais pânico, mais falta de ar, mais desespero. Tocou meu telefone, era da clínica médica, meu médico pediu que eu fosse até lá para ele me examinar, "- Mas eu estou sozinha! Ok, chegarei aí em 10 minutos.". Saí do banheiro, peguei uma toalha limpa, minha bolsa e os exames que havia feito até então durante a gravidez. Ainda perdendo líquido, fui dirigindo sozinha até o consultório médico. Chegando lá ele me examinou e disse que estava com dilatação de 3 cm e que o Galileu nasceria naquele mesmo dia, e que, como era pré maturo, provavelmente precisaria de UTI. Ele me informou que eu tinha apenas duas opções: um hospital particular (em que a UTI custaria em torno de R$ 6.000,00 por dia) em que ele faria meu parto, ou o hospital público que tem UTI mas que ele não faria meu parto. Tentei manter a cabeça fria e tomar a melhor decisão para o meu Galileu, mas também considerando que todas as reservas que tínhamos gastamos na obra da casa. Resolvi que seria melhor ir para o hospital público. Ao falar isso para meu médico, ele apenas me entregou um encaminhamento e me desejou boa sorte, ponto.
Saí do consultório, ainda sozinha, peguei o carro, e dirigi até o hospital. Chegando lá, uma parte dos funcionários em greve, comuniquei na recepção que estava em trabalho de parto, e que precisava de atendimento com urgência, liguei para o Cezar e consegui falar com ele, ele me avisou que estava voltando para Cascavel. Pediram então que eu fosse até a outra entrada, a entrada do pronto socorro. Lá fui eu, andando e perdendo líquido, até o pronto socorro. Chegando lá me identifiquei na entrada, me disseram que fosse até a porta do centro obstétrico para ser atendida. Fui, novamente, sozinha e andando. Ao chegar à porta me identifiquei, informei que estava perdendo líquido, grávida de 35 semanas, enfim, olhei no relógio, 11:04 da manhã. Pediram que eu me sentasse e esperasse, do lado de fora, que logo viriam me chamar. Sentei e esperei. O Cezar me ligou e falou que já estava chegando. E eu esperei. Até que finalmente me irritei e exigi ser atendida, foi quando o Cezar chegou. 12:10 me encaminharam para a anamnese com um estudante de medicina. Ele fez algumas perguntas, fez um exame físico e pediu que eu esperasse novamente. Logo ele voltou com o médico obstetra de plantão que me perguntou se eu tinha alguma dúvida. A primeira coisa que perguntei foi sobre o meu direito ao acompanhante. Ele me informou que está ciente da Lei, mas que o hospital não oferecia estrutura para permitir que todas as mães entrassem com acompanhante, e que não seria permitida a entrada de ninguém comigo. Tiramos mais algumas dúvidas e pediram que o Cezar saísse do consultório para me prepararem para o parto. Sem pedir ou informar nada, me depilaram, fizeram uma lavagem intestinal, me trocaram a roupa. Pediram que colocasse tudo que era meu em um saco plástico e fosse lá fora entregar para o Cezar.
Feito isso, me encaminharam para um quarto, sozinha, e logo chegaram 3 estagiárias de enfermagem e a enfermeira professora delas. Elas me acompanharam durante a tarde toda, me acalmaram, conversaram comigo, me examinaram. Às vezes aparecia um médico, ou estudante de medicina para me examinar. Não estava apresentando "dinâmica de parto", tinha contrações muito curtas, sem dor, e muito irregulares. Não me deram opção, apenas me pediram que fosse lá fora e me despedisse do Cezar, porque iriam me injetar ocitocina para iniciar a indução. Perguntei se não havia a possibilidade de fazer uma cesárea, me disseram que a instituição opta por fazer parto humanizado, e que só seria feita a cesárea se não fosse possível o parto normal. Fui me despedir do Cezar, e ele me disse que meus pais já estavam chegando. Disse à ele que estava muito assustada e com muito medo, eu queria tanto que ele pudesse ficar comigo para me apoiar. Voltei para o quarto, com muito medo, e a indução começou. Em torno de 16:00 me puseram no soro com a medicação, e as enfermeiras me explicaram tudo o que estava por acontecer, me passaram umas dicas de respiração e me falaram que estariam comigo para me ajudar.
Quando as contrações começaram, as enfermeiras me mantiveram calma e acompanharam a evolução do trabalho de parto. A dor intensificou-se muito rapidamente, e elas sugeriram que eu me sentasse em baixo do chuveiro com água morna para aliviar a dor, então me acompanharam até o banheiro e me sentaram embaixo do chuveiro. Foi então que me comunicaram que precisavam ir embora, pois a professora precisava aplicar provas e as alunas seriam avaliadas. Dessa forma, elas foram embora, e eu fiquei embaixo do chuveiro. Logo em seguida uma mulher entrou no banheiro e pediu que eu saísse de lá e voltasse para o quarto.
De volta ao quarto, as dores estavam muito fortes e muito frequentes, começaram a surgir médicas e outras pessoas que não sei se eram estudantes, enfermeiros ou sei lá, me fizeram inúmeros exames de toque, conversavam usando termos que eu não entendia, apenas ouvi que não estava dilatando bem, e comentavam a cada novo "visitante" que eu havia feito o pré natal "no particular" com um certo tom de sarcasmo, e eu pedi novamente se havia possibilidade de fazer uma cesárea, novamente me recusaram. Então pedi se eu podia receber um anestésico ou analgésico e esse pedido também foi negado.
Algum tempo depois, as contrações ficaram extremamente intensas e uma médica passou a me acompanhar o tempo todo. Ela pediu que eu começasse a fazer força para encaixar o bebê antes de irmos para a sala de parto. A cada vez que eu empurrava (empurrar doía pra caramba) ela fazia um "toque" que me fazia ver estrelas! Uma das mulheres que estava no quarto me sugeriu sentar na bola de pilates para empurrar, pois a gravidade ajudaria o bebê a descer para o canal de parto. Na bola, as contrações e as dores ao empurrar reduziram um pouco, mas logo a médica me pediu que eu voltasse para a maca para que ela fizesse um toque novamente, a cada vez que ela me "tocava" eu sentia uma dor insuportável, e eu só pedia que ela me deixasse empurrar, sem tocar, mas ela continuava. Logo fiquei cansada e já não suportava aquela mulher me causando tanta dor, gritei, chorei, implorei que me dessem qualquer analgésico, anestésico, qualquer coisa que aliviasse aquela dor, e novamente me foi recusado. Nesse momento, desesperada e entre soluços, eu falei: "Não era pra ser assim, não era pra isso estar acontecendo" - pensando que, ainda estava grávida de 8 meses, ainda não havia terminado o que precisava ser feito antes da chegada do Galileu, enfim, eu estava exausta, desesperada - ao que a médica me respondeu com o maior sarcasmo: "Pois é, querida, mas se você não teve dinheiro pra pagar o seu parto particular, aqui vai ter que ser do nosso jeito, aguente". Juro que senti vontade de arrebentar a cara dela, mas começou uma nova contração e não consegui reagir, precisei empurrar novamente. E foi então que entendi o porquê de não permitirem a entrada do acompanhante, a parturiente não é capaz de responder por si, não é capaz de se defender, de exigir o seu direito, e o acompanhante poderia "dificultar" muito o trabalho da equipe.
Cerca de 2 horas após o início da indução fui levada para a sala de parto. Havia chegado a hora, meu filho estava nascendo. Se eu me senti emocionada, feliz, etc. Não, eu me sentia exausta como nunca havia me sentido na vida, estava me sentindo violentada, cansada, estressada. Assim, me deitaram na "mesa" de parto e me fizeram uma episiotomia. No momento em que precisei empurrar o bebê eu senti que não tinha mais forças, que se eu precisasse empurrar mais de 2 vezes eu desmaiaria, eu já não tinha mais forças. Foi então que o médico que me atendeu lá no início de alguma forma apareceu do meu lado, não sei dizer à quanto tempo ele estava lá, olhou para mim todo querido e disse: "Eu posso te ajudar, se você quiser" - com a voz mais doce que ouvi naquele dia. Então perguntei o que ele poderia fazer, e ele me respondeu que poderia ajudar pressionando minha barriga com seu braço para empurrar o bebê. Eu jurei para mim mesma que eu até permitiria uma episiotomia, mas essa manobra eu jamais permitiria que fizessem comigo. Mas naquele momento, exaurida, achando que eu ia morrer, eu olhei para ele, me sentindo completamente impotente, autorizei a manobra. (ainda me sinto horrível, mesmo depois de todo esse tempo)
Então, às 18:49, o Galileu nasceu, e nasceu chorando à plenos pulmões, os médicos disseram que estava tudo bem com ele. Não o vi, não vi o corte do cordão, não vi ele ser levado, mas o levaram para ser limpo e enrolado em outra sala. Depois de alguns minutos trouxeram-no, o puseram em cima de mim, mandaram que eu desse um beijo e o levaram para ser aquecido, procedimento padrão para pré maturos. Me senti muito desolada, não pude nem mesmo pôr as mãos no meu filho, não pude pegá-lo, não pude nem mesmo olhar para ele direito.
A médica massageou minha barriga para que a placenta fosse expelida e fez a sutura da episiotomia. Eu sentia muita fome e só queria dormir.
Terminada a sutura a médica saiu da sala e me deixou lá sozinha, era horário de troca de turno, demorou em torno de 10 minutos para aparecer uma enfermeira e me tirar de lá, ela me colocou em uma maca, me cobriu com um cobertor e me deixou no corredor. Me trouxeram sopa, me sentei, com muita dor na região dos pontos, e tomei a sopa. Eu tremia descontroladamente, mal conseguia acertar a boca com a colher.
Deitei-me na maca e, a cada enfermeira que passava pelo corredor, eram poucas, eu pedia se podia ver como estava meu filho e se poderia vê-lo. Todas iam para o final do corredor e voltavam dizendo a mesma coisa: "Ele está apenas sendo aquecido, já vamos trazê-lo para você". Eu não via a hora de tê-lo nos meus braços, eu queria amamentá-lo o mais breve possível, pois sabia o quanto isso seria importante para ele.
Depois de cerca de 1 hora no corredor, uma enfermeira veio e me levou com maca e tudo para uma sala na entrada do centro obstétrico para que eu pudesse ver e falar com o Cezar. Entraram na sala o Cezar e meus pais, contei como havia sido tudo, conversamos, e a cada pessoa que passava por perto pedíamos que nos trouxesse notícias, que nos trouxesse o nosso Galileu. E todas diziam a mesma coisa: "Ele está sendo aquecido". Repetiram esse mantra tantas vezes, que começamos até a fazer brincadeiras, estávamos tranquilos, porém, depois de um tempo começamos a achar que alguma coisa estava errada, que não era possível demorar tanto. Perguntamos novamente para as enfermeiras e elas passaram a afirmar que o Galileu estava aguardando a avaliação do pediatra, e que o pediatra ainda não havia chegado. Após 3 horas (isso mesmo: 3 horas) o Cezar foi chamado para vê-lo, meu pai entregou sua câmera para ele tirar fotos do Galileu, e ele entrou com o médico.
Quando ele voltou, ele tremia, estava pálido, e nos disse que o médico lhe informou que o caso do nosso Galileu era grave.
A fúria tomou conta de todos nós, eu não podia acreditar no que eu estava ouvindo, depois de tudo o que tinha acontecido, depois de tanto cansaço, o meu Galileu não estava bem, senti medo, senti raiva, senti dor.
Levantei-me da maca e "invadi" o hospital - não podia andar, a enfermeira me informou, me perguntou onde eu estava indo, eu apenas respondi que estava indo cuidar do meu filho. Chegando lá encontrei meu Galileuzinho, o meu filho, apresentando gemência ao respirar, respirando com bastante dificuldade, sozinho, em uma salinha. Essa é a imagem que eu mais queria apagar de minha memória, no entanto acho que é aquela que jamais esquecerei. Nunca senti dor maior na minha vida, toda a dor do parto, toda a violência que sofri não significou nada perto daquela dor. Eu queria pegá-lo, eu queria tocá-lo, se eu pudesse eu passaria por toda a dor e todo o esforço mais uma vez se fosse isso que precisasse para não vê-lo assim. O Cezar e os meus pais começaram um escândalo dentro do hospital, o médico informou que seria necessário encaminhá-lo para a UTI, mas que a UTI estava lotada, ele sugeriu que o Galileu fosse transferido para outra cidade, então meu pai fez toda uma mobilização para conseguir uma vaga na UTI em Francisco Beltrão, e então o médico nos informou que não havia como transportá-lo para lá, só no dia seguinte. Nós conseguimos encontrar todas as formas para levá-lo para lá, bastava que o médico nos desse o encaminhamento. Quando ele finalmente percebeu que estávamos falando sério, que daríamos um jeito, que falaríamos com pessoas muito influentes e de muito "poder", surgiu uma solução: uma vaga na UCI ali mesmo no HU. E foi para lá que levaram meu filhinho.
Me levaram para a maternidade e disseram que eu me deitasse e dormisse. Da mesma forma que entrei pela porta, eu saí e fui para a UCI. Chegando lá, entramos e ficamos uns minutos com meu filho, a gemência estava diminuindo e ele estava respirando com ajuda de uma máscara de oxigênio. Ele era a coisinha mais linda que eu já havia visto, eu queria tanto poder fazer alguma coisa por ele. Conhecemos algumas das mulheres da equipe da UCI, e nos sentimos um pouco mais confiantes de que ele estaria bem cuidado. Logo informaram que o Galileu estava estável, e que era melhor todo mundo ir descansar, que não tinha nada que pudéssemos fazer. Subi novamente para a maternidade, o Cezar e meus pais foram para casa. Passei a noite toda em claro, chorei, cada músculo do meu corpo doía como se tivesse passado vários dias na academia me exercitando sem parar, os pontos doíam, mas doía mais ainda olhar para o bercinho ao lado da cama vazio, e imaginar que o meu pequenino estava longe de mim, eu queria tanto ficar com ele pertinho, aquela foi a noite mais longa de toda a minha vida.
Na manhã seguinte uma mulher, acho que era estudante de medicina, veio examinar as 3 mães e os bebês que estavam no quarto. As outras duas tinham feito cesárea e foram examinadas primeiro. Quando chegou minha vez ela informou que estava tudo evoluindo bem, e foi-se embora. Apareceu uma enfermeira e me trouxe uns medicamentos, eu tomei e ela foi-se embora. Desci para a UCI para ver o Galileu, enquanto estava lá fiquei em pé ao lado do berço só admirando ele, as meninas da equipe de enfermagem me deram o maior apoio, conversaram comigo, me tranquilizaram, me senti um pouco melhor. Depois de algum tempo que eu estava lá, o pediatra apareceu e disse que era pra eu voltar para a maternidade, eu repondi que preferia ficar com meu filho, e ele então me perguntou, muito grosseiro, se eu não confiava neles, ignorei a pergunta e continuei lá mais um tempinho. No entanto, eu estava com dor, cansada e resolvi voltar para a maternidade e esperar que o Cezar chegasse para me trazer algumas coisas para tomar banho. O Cezar chegou, eu tomei meu banho, depois de ficar um pouquinho com o Galileu ele saiu com meus pais para almoçar, então apareceu uma enfermeira, eu acho que era enfermeira, e disse que eu já podia ir pra casa, que não precisava mais ficar internada. Havia apenas 16 horas desde o nascimento do Galileu, então eu disse que esperaria o meu marido voltar do almoço aí eu pegaria os documentos da alta. Ela não gostou muito, deu a entender que queria que eu saísse de lá. Foi o que fiz, depois de almoçar (o almoço é servido super cedo, às 11) desci para a UCI e esperei até que o Cezar tivesse chegada para pegar os documentos da alta.
Após a alta eu já não estava mais internada, logo, precisava voltar para casa para dormir.
Acompanhei o Galileu durante 8 dias de internação. Após 3 dias a amamentação finalmente foi liberada, e foi então que o Galileu consegui deixar o oxigênio e sua respiração estabilizou. Ele precisou ficar lá por mais tempo pois teve icterícia e ficou na fototerapia.
O período de internação foi muito cansativo, no entanto aprendemos muito, já que havia sempre uma enfermeira por perto caso precisássemos de ajuda. Aprendemos a pegar ele com jeitinho, aprendemos a trocar, havia uma enfermeira muito dedicada que nos ajudou na amamentação, nos ensinou como fazer a pega correta. Dentro da UCI não temos absolutamente nenhuma queixa, apesar das circunstâncias, tudo lá foi bem tranquilho graças às meninas da enfermagem.
Depois de 8 dias recebemos a notícia da alta, foi o maior chorôrô! As meninas se apegaram ao Galileu, e eu confesso que senti um medinho! A partir daquele momento era por nossa conta, não tinha mais enfermeira pra nós pedirmos socorro.
E assim foi o nascimento do Galileu. Essa loucura toda.
De volta ao quarto, as dores estavam muito fortes e muito frequentes, começaram a surgir médicas e outras pessoas que não sei se eram estudantes, enfermeiros ou sei lá, me fizeram inúmeros exames de toque, conversavam usando termos que eu não entendia, apenas ouvi que não estava dilatando bem, e comentavam a cada novo "visitante" que eu havia feito o pré natal "no particular" com um certo tom de sarcasmo, e eu pedi novamente se havia possibilidade de fazer uma cesárea, novamente me recusaram. Então pedi se eu podia receber um anestésico ou analgésico e esse pedido também foi negado.
Algum tempo depois, as contrações ficaram extremamente intensas e uma médica passou a me acompanhar o tempo todo. Ela pediu que eu começasse a fazer força para encaixar o bebê antes de irmos para a sala de parto. A cada vez que eu empurrava (empurrar doía pra caramba) ela fazia um "toque" que me fazia ver estrelas! Uma das mulheres que estava no quarto me sugeriu sentar na bola de pilates para empurrar, pois a gravidade ajudaria o bebê a descer para o canal de parto. Na bola, as contrações e as dores ao empurrar reduziram um pouco, mas logo a médica me pediu que eu voltasse para a maca para que ela fizesse um toque novamente, a cada vez que ela me "tocava" eu sentia uma dor insuportável, e eu só pedia que ela me deixasse empurrar, sem tocar, mas ela continuava. Logo fiquei cansada e já não suportava aquela mulher me causando tanta dor, gritei, chorei, implorei que me dessem qualquer analgésico, anestésico, qualquer coisa que aliviasse aquela dor, e novamente me foi recusado. Nesse momento, desesperada e entre soluços, eu falei: "Não era pra ser assim, não era pra isso estar acontecendo" - pensando que, ainda estava grávida de 8 meses, ainda não havia terminado o que precisava ser feito antes da chegada do Galileu, enfim, eu estava exausta, desesperada - ao que a médica me respondeu com o maior sarcasmo: "Pois é, querida, mas se você não teve dinheiro pra pagar o seu parto particular, aqui vai ter que ser do nosso jeito, aguente". Juro que senti vontade de arrebentar a cara dela, mas começou uma nova contração e não consegui reagir, precisei empurrar novamente. E foi então que entendi o porquê de não permitirem a entrada do acompanhante, a parturiente não é capaz de responder por si, não é capaz de se defender, de exigir o seu direito, e o acompanhante poderia "dificultar" muito o trabalho da equipe.
Cerca de 2 horas após o início da indução fui levada para a sala de parto. Havia chegado a hora, meu filho estava nascendo. Se eu me senti emocionada, feliz, etc. Não, eu me sentia exausta como nunca havia me sentido na vida, estava me sentindo violentada, cansada, estressada. Assim, me deitaram na "mesa" de parto e me fizeram uma episiotomia. No momento em que precisei empurrar o bebê eu senti que não tinha mais forças, que se eu precisasse empurrar mais de 2 vezes eu desmaiaria, eu já não tinha mais forças. Foi então que o médico que me atendeu lá no início de alguma forma apareceu do meu lado, não sei dizer à quanto tempo ele estava lá, olhou para mim todo querido e disse: "Eu posso te ajudar, se você quiser" - com a voz mais doce que ouvi naquele dia. Então perguntei o que ele poderia fazer, e ele me respondeu que poderia ajudar pressionando minha barriga com seu braço para empurrar o bebê. Eu jurei para mim mesma que eu até permitiria uma episiotomia, mas essa manobra eu jamais permitiria que fizessem comigo. Mas naquele momento, exaurida, achando que eu ia morrer, eu olhei para ele, me sentindo completamente impotente, autorizei a manobra. (ainda me sinto horrível, mesmo depois de todo esse tempo)
Então, às 18:49, o Galileu nasceu, e nasceu chorando à plenos pulmões, os médicos disseram que estava tudo bem com ele. Não o vi, não vi o corte do cordão, não vi ele ser levado, mas o levaram para ser limpo e enrolado em outra sala. Depois de alguns minutos trouxeram-no, o puseram em cima de mim, mandaram que eu desse um beijo e o levaram para ser aquecido, procedimento padrão para pré maturos. Me senti muito desolada, não pude nem mesmo pôr as mãos no meu filho, não pude pegá-lo, não pude nem mesmo olhar para ele direito.
A médica massageou minha barriga para que a placenta fosse expelida e fez a sutura da episiotomia. Eu sentia muita fome e só queria dormir.
Terminada a sutura a médica saiu da sala e me deixou lá sozinha, era horário de troca de turno, demorou em torno de 10 minutos para aparecer uma enfermeira e me tirar de lá, ela me colocou em uma maca, me cobriu com um cobertor e me deixou no corredor. Me trouxeram sopa, me sentei, com muita dor na região dos pontos, e tomei a sopa. Eu tremia descontroladamente, mal conseguia acertar a boca com a colher.
Deitei-me na maca e, a cada enfermeira que passava pelo corredor, eram poucas, eu pedia se podia ver como estava meu filho e se poderia vê-lo. Todas iam para o final do corredor e voltavam dizendo a mesma coisa: "Ele está apenas sendo aquecido, já vamos trazê-lo para você". Eu não via a hora de tê-lo nos meus braços, eu queria amamentá-lo o mais breve possível, pois sabia o quanto isso seria importante para ele.
Depois de cerca de 1 hora no corredor, uma enfermeira veio e me levou com maca e tudo para uma sala na entrada do centro obstétrico para que eu pudesse ver e falar com o Cezar. Entraram na sala o Cezar e meus pais, contei como havia sido tudo, conversamos, e a cada pessoa que passava por perto pedíamos que nos trouxesse notícias, que nos trouxesse o nosso Galileu. E todas diziam a mesma coisa: "Ele está sendo aquecido". Repetiram esse mantra tantas vezes, que começamos até a fazer brincadeiras, estávamos tranquilos, porém, depois de um tempo começamos a achar que alguma coisa estava errada, que não era possível demorar tanto. Perguntamos novamente para as enfermeiras e elas passaram a afirmar que o Galileu estava aguardando a avaliação do pediatra, e que o pediatra ainda não havia chegado. Após 3 horas (isso mesmo: 3 horas) o Cezar foi chamado para vê-lo, meu pai entregou sua câmera para ele tirar fotos do Galileu, e ele entrou com o médico.
Quando ele voltou, ele tremia, estava pálido, e nos disse que o médico lhe informou que o caso do nosso Galileu era grave.
A fúria tomou conta de todos nós, eu não podia acreditar no que eu estava ouvindo, depois de tudo o que tinha acontecido, depois de tanto cansaço, o meu Galileu não estava bem, senti medo, senti raiva, senti dor.
Levantei-me da maca e "invadi" o hospital - não podia andar, a enfermeira me informou, me perguntou onde eu estava indo, eu apenas respondi que estava indo cuidar do meu filho. Chegando lá encontrei meu Galileuzinho, o meu filho, apresentando gemência ao respirar, respirando com bastante dificuldade, sozinho, em uma salinha. Essa é a imagem que eu mais queria apagar de minha memória, no entanto acho que é aquela que jamais esquecerei. Nunca senti dor maior na minha vida, toda a dor do parto, toda a violência que sofri não significou nada perto daquela dor. Eu queria pegá-lo, eu queria tocá-lo, se eu pudesse eu passaria por toda a dor e todo o esforço mais uma vez se fosse isso que precisasse para não vê-lo assim. O Cezar e os meus pais começaram um escândalo dentro do hospital, o médico informou que seria necessário encaminhá-lo para a UTI, mas que a UTI estava lotada, ele sugeriu que o Galileu fosse transferido para outra cidade, então meu pai fez toda uma mobilização para conseguir uma vaga na UTI em Francisco Beltrão, e então o médico nos informou que não havia como transportá-lo para lá, só no dia seguinte. Nós conseguimos encontrar todas as formas para levá-lo para lá, bastava que o médico nos desse o encaminhamento. Quando ele finalmente percebeu que estávamos falando sério, que daríamos um jeito, que falaríamos com pessoas muito influentes e de muito "poder", surgiu uma solução: uma vaga na UCI ali mesmo no HU. E foi para lá que levaram meu filhinho.
Me levaram para a maternidade e disseram que eu me deitasse e dormisse. Da mesma forma que entrei pela porta, eu saí e fui para a UCI. Chegando lá, entramos e ficamos uns minutos com meu filho, a gemência estava diminuindo e ele estava respirando com ajuda de uma máscara de oxigênio. Ele era a coisinha mais linda que eu já havia visto, eu queria tanto poder fazer alguma coisa por ele. Conhecemos algumas das mulheres da equipe da UCI, e nos sentimos um pouco mais confiantes de que ele estaria bem cuidado. Logo informaram que o Galileu estava estável, e que era melhor todo mundo ir descansar, que não tinha nada que pudéssemos fazer. Subi novamente para a maternidade, o Cezar e meus pais foram para casa. Passei a noite toda em claro, chorei, cada músculo do meu corpo doía como se tivesse passado vários dias na academia me exercitando sem parar, os pontos doíam, mas doía mais ainda olhar para o bercinho ao lado da cama vazio, e imaginar que o meu pequenino estava longe de mim, eu queria tanto ficar com ele pertinho, aquela foi a noite mais longa de toda a minha vida.
Na manhã seguinte uma mulher, acho que era estudante de medicina, veio examinar as 3 mães e os bebês que estavam no quarto. As outras duas tinham feito cesárea e foram examinadas primeiro. Quando chegou minha vez ela informou que estava tudo evoluindo bem, e foi-se embora. Apareceu uma enfermeira e me trouxe uns medicamentos, eu tomei e ela foi-se embora. Desci para a UCI para ver o Galileu, enquanto estava lá fiquei em pé ao lado do berço só admirando ele, as meninas da equipe de enfermagem me deram o maior apoio, conversaram comigo, me tranquilizaram, me senti um pouco melhor. Depois de algum tempo que eu estava lá, o pediatra apareceu e disse que era pra eu voltar para a maternidade, eu repondi que preferia ficar com meu filho, e ele então me perguntou, muito grosseiro, se eu não confiava neles, ignorei a pergunta e continuei lá mais um tempinho. No entanto, eu estava com dor, cansada e resolvi voltar para a maternidade e esperar que o Cezar chegasse para me trazer algumas coisas para tomar banho. O Cezar chegou, eu tomei meu banho, depois de ficar um pouquinho com o Galileu ele saiu com meus pais para almoçar, então apareceu uma enfermeira, eu acho que era enfermeira, e disse que eu já podia ir pra casa, que não precisava mais ficar internada. Havia apenas 16 horas desde o nascimento do Galileu, então eu disse que esperaria o meu marido voltar do almoço aí eu pegaria os documentos da alta. Ela não gostou muito, deu a entender que queria que eu saísse de lá. Foi o que fiz, depois de almoçar (o almoço é servido super cedo, às 11) desci para a UCI e esperei até que o Cezar tivesse chegada para pegar os documentos da alta.
Após a alta eu já não estava mais internada, logo, precisava voltar para casa para dormir.
Acompanhei o Galileu durante 8 dias de internação. Após 3 dias a amamentação finalmente foi liberada, e foi então que o Galileu consegui deixar o oxigênio e sua respiração estabilizou. Ele precisou ficar lá por mais tempo pois teve icterícia e ficou na fototerapia.
O período de internação foi muito cansativo, no entanto aprendemos muito, já que havia sempre uma enfermeira por perto caso precisássemos de ajuda. Aprendemos a pegar ele com jeitinho, aprendemos a trocar, havia uma enfermeira muito dedicada que nos ajudou na amamentação, nos ensinou como fazer a pega correta. Dentro da UCI não temos absolutamente nenhuma queixa, apesar das circunstâncias, tudo lá foi bem tranquilho graças às meninas da enfermagem.
Depois de 8 dias recebemos a notícia da alta, foi o maior chorôrô! As meninas se apegaram ao Galileu, e eu confesso que senti um medinho! A partir daquele momento era por nossa conta, não tinha mais enfermeira pra nós pedirmos socorro.
E assim foi o nascimento do Galileu. Essa loucura toda.
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