Nessa noite a insônia atacou, não tem jeito de dormir, e comecei a considerar, a pensar e decidi propor uma reflexão/discussão, que não tenho visto com muita frequência, mas que considero extremamente importantes, inclusive para a saúde pública de maneira geral.
Falarei um pouco sobre o dilema da escolha do parto.
Em condições "normais", acredito que toda mulher passe por esse dilema, e que a escolha seja muito difícil para todas nós!
Alerto desde já que este post será bastante longo, e que revela alguns "segredos" dos partos que podem surpreender e até assustar alguns leitores.
De início, todo mundo deve estar pensando: "Mas ela está no 4º mês de gestação e já está preocupada em escolher o parto!" "Mas porque se preocupar com isso tão cedo?"
Pois é minha gente, ansiosa que sou, já penso muito a respeito do tipo de parto que escolherei desde muito antes de ficar grávida, e, tenho certeza, de que toda mulher, assim que descobre que está grávida, começa a pensar em como fará pra colocar esse serzinho no mundo.
Pois bem, considerando as duas opções disponíveis no momento para minha escolha: parto normal e parto cesáreo. Já que faço meu acompanhamento pelo sistema particular de saúde, não há a mínima chance de parto humanizado, uso de banheira, nem nada daquilo que vemos nos filmes e nos programas de televisão, que aparentemente tornam os partos menos traumáticos e mais divertidos, se é que isso é possível! Bem que eu queria tentar umas coisas diferentes...
A ideia de discutir o assunto me surgiu nessa noite de insônia, pois em várias pesquisas, e durante minha faculdade, li muito a respeito da recomendação da OMS (Organização Mundial de Saúde) de que o parto normal seja sempre priorizado, e que a cesárea seja utilizada em, no máximo 15% dos casos, sendo recomendada apenas em casos de riscos à saúde e à vida do bebê e da mãe. Entretanto, ainda pesquisando, e conversando com várias mulheres aqui na internet, percebi que o parto cesáreo é feito em uma maioria esmagadora, mesmo sem haver necessidade real, ou seja, é o parto eletivo.
Consideremos os dois tipos de partos e suas principais vantagens e desvantagens:
PARTO NORMAL
Quando não há complicações podemos destacar entre as vantagens a possibilidade de receber alta mais cedo, a mãe participa de forma mais ativa do parto, mesmo com uso de anestesia, a mãe pode decidir se e em que momento vai recorrer à anestesias, a recuperação é muito mais rápida e menos dolorida, a recuperação da independência da mulher e da sua capacidade de voltar às atividades rotineiras é muito mais rápida, o contato com o bebê após o parto é imediato e favorece a formação de laços afetivos desde o momento do nascimento e é possível amamentar o bebê no momento do nascimento.
Já como desvantagens temos mais dor no momento do parto, o trabalho de parto pode ser incrivelmente longo, dolorido e exaustivo, há possibilidade de ser necessária uma incisão conhecida como episiotomia, todo o sistema reprodutivo sofre grandes mudanças e pode ocorrer incontinência urinária.
PARTO CESÁREO
Esse tipo de parto tem como principal vantagem o fato de ser rápido, prático e "fácil",o que facilita muito a vida do médico, a mulher não sente dor no momento do parto, o risco de complicações durante o parto é bastante reduzido pois o ambiente e o procedimento são totalmente controlados.
No entanto, em primeiro lugar devemos considerar que qualquer procedimento cirúrgico sempre envolve riscos e o uso de anestesias é obrigatório, há maior chance do bebê ter complicações respiratórias, a mãe fica totalmente passiva durante e após o parto tendo contato com o bebê somente algum tempo após o corte ser suturado e a anestesia perder efeito, apesar de o parto ser totalmente indolor o mesmo não ocorre com a recuperação, que pode ser muito dolorida e demorada, dificultando inclusive atividades como a amamentação nos primeiros dias de vida do bebê, que é extremamente importante.
A escolha, quando é possível, cabe apenas à mãe, e, devo confessar, é um fardo gigantesco (pelo menos tem sido pra mim).
Dentre os fatores que interferem na escolha da mãe, além das vantagens e desvantagens apresentadas anteriormente, está a opinião e o aconselhamento do médico obstetra que acompanha a gestação. E é aí que a coisa se complica, e que minha discussão começa a tomar caráter mais pessoal.
Em primeiro lugar destaco a confiança que nós, mães de primeira viagem depositamos em nossos médicos, já que eles têm conhecimento muito maior que o nosso, acompanham nossa gravidez desde o início e já fizeram vários partos, tendo assim referências para comparação muito melhores do que as nossas.
Não gosto de "Deusificar" os médicos, mas quando se trata da minha gravidez, não faço nada que penso que pode causar algum risco, sem antes falar com ele pra ter certeza, e o mesmo aconteceu com relação à escolha do parto na última consulta.
Eis que, entre várias considerações de uma consulta super corrida (não é porque é particular que é tudo as mil maravilhas não...) que uma frase do meu médico me marcou muito, disse ele: "Cesárea faz que quer, Normal só faz quem pode". Conversa vai, conversa vem, ficou bem claro pra mim que ele é super à favor da cesárea, apesar de fazer também o parto normal, se for possível. Já eu, sempre fui super defensora do parto normal, humanizado, tudo do jeito que a mãe tem direito. E foi aí que "se foi o boi com a corda"!
Sendo ele super defensor do parto cesáreo, é evidente que ele destacou muito as vantagens da cesárea e minimizou bastante as desvantagens, e, é claro, não podia ser diferente, evidenciou com muita ênfase as desvantagens do parto normal.
E, então, aconteceu que, fiquei na maior dúvida!
Algumas das frases que ouvi:
"Só faz parto normal com episiotomia, porque, com certeza, vai haver laceração, e vai ser pior"
"Toda mulher que faz parto normal vai sofrer, mais cedo ou mais tarde, com incontinência urinária"
É impossível ficar totalmente tranquila e impassível diante de tais colocações, principalmente quando elas vêm do profissional responsável pela sua gestação, à quem você confiou todos os cuidados de que você e seu bebê necessitam até o nascimento.
Voltando ao cerne da discussão, pra não perder de vez nem o boi e nem a corda, me pus a considerar que, talvez o fato de a maioria esmagadora dos partos realizados hoje ser de cesarianas pode ter ligação direta com a preferência do médico, e não da gestante, pode ter a ver com o "medo" que os médicos impõem sobre a gestante de que o parto normal é sempre mais arriscado, de que a vida sexual do casal nunca mais será a mesma e de que a cesariana é só vantagens pra mãe. Tudo isso não deixa de ser um jogo com a capacidade de decisão da mulher, além de enfraquecer enormemente a auto estima dela, e, com certeza, interfere na decisão final.
Eu mesma, antes de engravidar, tinha certeza de que queria parto normal, e só faria cesárea em caso de emergência, mas a cada consulta fico mais hesitante, e com mais dúvidas sobre o que escolher.
Eu mesma, antes de engravidar, tinha certeza de que queria parto normal, e só faria cesárea em caso de emergência, mas a cada consulta fico mais hesitante, e com mais dúvidas sobre o que escolher.
Creio que a discussão desse assunto seja bastante relevante, e com certeza vou levar ainda um bom tempo até decidir o que fazer da vida.
Até lá, vou-me para a cama, por que o sono está voltando e amanhã é "dia de são pega".
Atualização:
De maneira alguma pretendi difamar meu médico, já que, como disse anteriormente, ele não recusa fazer parto normal e, portanto a escolha é minha, apenas usei alguns exemplos do que ele me disse para demonstrar meu ponto. A principal intenção aqui é trazer à luz o que ocorre todos os dias em consultórios médicos do Brasil inteiro, as induções a escolhas a que as mulheres são submetidas, e que muitas vezes aceitam sem questionar por não ter acesso a informação, por medo, ou até por vergonha de falar no assunto. Eu mantenho minha posição, a decisão do tipo de parto que farei é só minha, e contarei com a opinião do meu marido, da minha mãe, e com o histórico da minha família como fatores críticos na minha escolha, tendo em mente sempre o que será melhor para mim e para o meu bebê.
Espero ter ajudado mais do que confundido.
Até lá, vou-me para a cama, por que o sono está voltando e amanhã é "dia de são pega".
Atualização:
De maneira alguma pretendi difamar meu médico, já que, como disse anteriormente, ele não recusa fazer parto normal e, portanto a escolha é minha, apenas usei alguns exemplos do que ele me disse para demonstrar meu ponto. A principal intenção aqui é trazer à luz o que ocorre todos os dias em consultórios médicos do Brasil inteiro, as induções a escolhas a que as mulheres são submetidas, e que muitas vezes aceitam sem questionar por não ter acesso a informação, por medo, ou até por vergonha de falar no assunto. Eu mantenho minha posição, a decisão do tipo de parto que farei é só minha, e contarei com a opinião do meu marido, da minha mãe, e com o histórico da minha família como fatores críticos na minha escolha, tendo em mente sempre o que será melhor para mim e para o meu bebê.
Espero ter ajudado mais do que confundido.




